Sobre
Maria José (Zé) Ventura nasceu o 10 de maio de 1956, tendo recebido o nome da sua bisavó, mãe do avô paterno. No entanto, foi em Monchique que cresceu e moldou o seu olhar, entre a casa da família na vila (desenhada pelo arquitecto António Vicente de Castro) e as visitas aos avós nas Caldas de Monchique, com o modelo das linhas arquitetura moderna e das cores da Serra; do litoral algarvio, guarda a luz e os tons do mar, e ambas as influências – da Serra e do Mar – se refletem inevitavelmente nas suas obras, porquanto a paisagem interior da artista se faz não apenas das emoções e da necessidade intrínseca de criar, mas também da paisagem exterior do seu Algarve.
Desde muito cedo mostra interesse e aptidão para o desenho, num percurso natural que
(Jornal de Monchique, 1998).
Porém, em Belas-Artes fica desapontada com os métodos de ensino e decide continuar a trilhar de forma livre o seu próprio caminho, aperfeiçoando o desenho e a pintura, ao passo que, a partir de 1981, se inicia na tecelagem, técnica que lhe grajeou o Prémio Nacional de Artesanato (promovido pelo IEFP), em 1993.
“Quase que nem escolhi (…). Nunca pensei outra coisa”
Desenho a lápis
Bordado feito pela mãe
Em Portimão continua a desenvolver actividade no atelier que partilha com o marido arquitecto João Barros. O marido faleceu em 2005.
Tem agora o atelier em Monchique.
Em 1984 apresenta, na Galeria Mercado de Escravos, em Lagos, uma colecção de desenhos, tecelagem e panos pintados. Foi entrevistada, e revela:
Desenho a canetas de feltro
“(…) Estou de fora a contemplar a
minha viagem nas cores
Nas texturas que criei com os tecidos
As colas as massas
Cobrir texturas com as cores
Criar espaços movimento
O Eu de fora ficou espantado com o
Eu de dentro
Pesquisa constante
dúvidas
Não parar não parar
às vezes há um balançar pelo
exterior
e o tempo não chega
É trabalho?
É trabalho ver as cores que
Nos rodeiam, a relação Eu-Terra?”
Zé Ventura 1988
Bordado feito pela mãe
...os meus desenhos são parte de mim, é um bocado de mim que digo, não por palavras, mas por desenho, cada um entende, cada um recebe à sua maneira.
Comecei a trabalhar no Tear como por curiosidade, é um aparelho complexo mas que trabalha de uma forma muito simples. A confecção do tecido é feita pelo cruzamento dos fios - Urdidura e -Trama.
Toda aquela envolvente estrutura impressiona e ao mesmo tempo é de uma delicadeza de instrumento musical. É um aparelho, (instrumento / máquina), quase sem idade, pois há referências desde 3.500 a.C.
A artista tem tecelagens que parecem pintura, e pintura que parecem tecelagens. Pintar e tecer são duas formas quase indissociáveis de se exprimir.
Assim o que Zé Ventura faz no campo cultural é uma reciclagem, não de fragmentos têxteis mas da Alma e das Técnicas dos antigos tecidos, conjugando tradição e modernidade transmutando com a sua elaboração mental e com o auxílio desse fantástico utensílio do corpo que são as mãos, o velho em novo.
“Sou feita das palavras dos outros, que em mim ou comigo se cruzam. (...) O desenho é para mim uma linha infinita que me envolve e me percorre.”
Frequentou a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (1976/1980) tendo a seguir ido viver em Portimāo e Monchique onde tem o seu atelier. Realizou diversas exposições de pintura e tecelagem em Portugal e Alemanha. Destacam-se no seu percurso mais recente as exposições individuais Museu Nacional do Traje em Lisboa (2002), Palácio da Galeria em Tavira (2006), Centro Cultural de Lagos (2006 e 2018), Custódio Moutinho Lda em Lisboa (2007) e Museu de Portimão (2008).
1.
2.
3.
Ana Lourenço Pinto - Curadora da Exposição “Uma Retrospectiva?” - Centro Cultural de Lagos (2019).
Silva Carriço - Curador da Exposição “As Cores do Tempo” - Galeria Sto Antonio, Monchique (2005).
Madalena Braz Teixeira - Directora do Museu Nacional do Traje - “Cores Tecidas”, Lisboa (2002).